Espiritualidade vs Ego

O que é espírito? Nunca a ciência provou nada sobre a existência dessa entidade que chamamos de espírito, mas temos que provar sua existência pra acreditarmos nisso? Ou melhor, tudo o que a ciência prova está certo? Antes de iniciar a falar sobre o tema, gostaria de fazer umas considerações.

Hoje muitas pessoas acreditam no que é cientificamente comprovado, o problema é que pra se provar algo cientificamente, primeiramente deve-se observar um fato inúmeras vezes, mensurá-lo ou observar o número de ocorrências, tirar as variáveis e tudo mais. Para citar um exemplo, podemos ver como órgãos como FDA ou a Anvisa analisam  "segurança" de um medicamento. Expõe-se animais à droga, verificam suas vantagens e desvantagens por uns 2 a 5 anos e depois testam em voluntários humanos fazendo analises para colocar no mercado. Reparem que afecções que levariam cerca de 10  ou mais anos não poderiam ser analisadas, e devido a contra indicações, tal remédio é tirado do mercado. Ou seja, após muito se acreditar que a droga é boa, de uma hora pra outra ela não é mais. O mesmo acontece com a física. Antes se acreditava que o átomo era indivisível e não era aceito argumentos contra, hoje sabemos que quanto mais se tenta medir, mais se encontra partículas subatômicas. 

É por esse e outros motivos que, quando alguém comenta "mas isso não é cientificamente comprovado", como se fosse invalidar tal assunto, é que eu relevo mais ainda a possibilidade de a ciência não conter a verdade absoluta.

Nesses últimos anos (lógico, é uma percepção pessoal) pude perceber que a questão da espiritualidade não está em nada ligada a ciência, e que sua existência ou não se quer cabe a ciência em comprová-la. Mas é através das experiências pessoais (aquelas que ninguém além de nós mesmos podemos "medir") é que "comprova" e se aceita tais elucubrações. Pode ser uma visão após um acidente, um sonho que nos comove ou simplesmente o fado de "despertar" para a iluminação. Independente de como se chega a esse "click", muitas pessoas ainda se dividem e brigam para argumentar seus pontos de vista sobre o que é espiritualidade.

Estudando um pouco sobre as religiões, pude perceber que há uma congruência entre esse aspecto místico que chamamos de energia, espírito, Deus, etc. Todos possuem uma essência de desprendimento, de um comportamento que leva em consideração os outros mais do que a si mesmo. Todas comentam sobre como devemos agir perante ao próximo e como devemos superar a nós mesmos. É aí que entra o EGO.

Toda vez que falamos, agimos e tramamos os acontecimentos a favor do próprio ego, fatalmente iremos de encontro aos interesses de alguém. Seja uma pessoa ou grupo que queira tirar vantagens para si, outros serão prejudicados pelos atos egoístas, em pequena ou grande escala. É aí que, existindo uma percepção sutil desses acontecimentos que surge a espiritualidade. Espiritualidade seria um estado de consideração de outrem ante aos próprios interesses, agir de acordo com a necessidade dos outros e não com a vontade deliberada de uma pessoa ou grupo. Até fazer as vontades dos outros poderia ir contra a espiritualidade, pois estaria favorecendo apenas parte do todo, e não do todo. No entanto, perceber esse estado não é fácil, pois muitas vezes usamos nossos próprios julgamentos e conceitos que nem sempre são os ideais. Entender o que os outros precisam nem sempre é atender o que os outros querem.

Essa sutileza sempre esteve presente em nossas vidas, mas damos pouca atenção a isso. Por exemplo, qual mãe gostaria de que seu filho ficasse o tempo todo em frente de uma televisão? Ela sabe de uma forma ou de outra que ele gostaria, mas que não deve, e muitas vezes tem que controlar o EGO da criança para que ela estude, tome banho, arrume o quarto e etc. Veja que nem sempre são coisas gostosas , mas que sabemos que são importantes para a educação. Essa criança supera seu ego, dá um passo a diante e, se superar cada vez mais, tornará essas atividades não tão agradáveis em hábitos e, posteriormente, numa atividade agradável. Mas e nós, o quanto estamos prontos para superar nossas vontades deliberadamente? Por sermos maduros julgamos já ter superado o que precisávamos superar, mas para por aí?
 Normalmente só percebemos o passo seguinte se tivermos um exemplo, e é aí que entram as religiões. Toda elas querem nos dizer algo, mostrar exemplos de pessoas que atingiram um estado de espiritualidade muito avançado e usam essas histórias para servir de exemplos. Mas quantos de nós estão prontos para seguir os mesmos passos de Buda Sidarta, Jesus, Maomé, Confúcio e Lao Zi? É fácil ver as pessoas lerem, discutirem tais livros, mas quais estão prontas para seguir os exemplos por eles realizados?

Assim como quando crianças, a superação do EGO é um treino, mas não devemos parar de nos superar quando adultos. Como diria um professor meu: "Velhos são aqueles que estão cheio de conceitos, velhice é um estado de espírito (pouco elevado), pois aqueles que sempre estiverem aptos a progredir e se superar, serão eternamente jovens."

Comentários

  1. Para mim, todos somos essência.. E o que nos diferencia neste plano é o grau de consciência que temos.. pesquisando algo para escrever a este respeito, que conseguisse expor melhor o meu ponto de vista, encontrei isto:

    "Não sou mente nem razão; não sou ego nem memória;
    Não sou audição, nem paladar, nem olfato nem visão.
    Não sou espaço nem terra; não sou fogo nem ar.
    Minha natureza é consciência e plenitude. Sou Ser, sou Ser.

    Não sou o que se conhece como prāṇa nem os cinco alentos;
    nem os sete elementos do corpo físico, nem os cinco kośas.
    Não sou fala, nem mãos ou pés; nem sexo nem eliminação.
    Minha natureza é consciência e plenitude. Sou Ser, sou Ser.

    Não tenho apego nem aversão; nem ambição, nem ilusão;
    orgulho e inveja não são meus; não tenho deveres,
    nem objetivos, nem desejos, nem busco a libertação.
    Minha natureza é consciência e plenitude. Sou Ser, sou Ser.

    Não sou virtude nem ação errônea; nem alegria nem sofrimento;
    nem mantras nem lugares sagrados; nem escrituras nem rituais;
    não sou prazer nem o que produz prazer, nem o desfrutador.
    Minha natureza é consciência e plenitude. Sou Ser, sou Ser.

    Não sou morte nem medo; não tenho classe social;
    nem pai, nem mãe, nem nascimento são meus;
    não tenho parentes nem amigos; nem mestre nem discípulos.
    Minha natureza é consciência e plenitude. Sou Ser, sou Ser.

    Sou livre de pensamentos. Sou livre de estrutura e forma;
    Estou conectado com os sentidos, pois permeio o existente.
    Não sou apegado nem condicionado, nem busco a liberdade.
    Minha natureza é consciência e plenitude. Sou Ser, sou Ser."

    Chama-se Nirvāṇa Ṣaṭkaṁ (Seis Estrofes da Iluminação). Não é, a rigor, um texto sobre instrução, mas um exercício de nididhyāsana, uma contemplação sobre quem somos.

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  2. É muito bonito e contemplativo... temos que colocar em prática... como você disse, é um exercício!

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